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Coincidências

Artigo publicado na revista SER TOTAL em dezembro de 1999

Quem de vocês já não se deparou com uma situação semelhante a esta: passa o dia se lembrando de uma pessoa e, quando menos espera o telefone toca, adivinha só quem é? A dita pessoa! Ou então, tem um assunto que não sai da sua mente, volta e meia lá está ele, como se te cutucasse. Liga a televisão e alguém fala nele, encontra os amigos e no meio do papo, ei-lo que aparece e não é você quem o coloca na roda, ouves o rádio e lá está ele de novo… até parece que o mundo todo resolveu falar sobre o assunto!

Mas, quantos de nós realmente damos a devida atenção ao que está acontecendo? Quantos de nós vamos além da frase: Foi uma simples coincidência!?

Na realidade, nada mais é do que a Teoria da Sincronicidade que C.G. Jung descreveu como “a coincidência cronológica de dois ou mais acontecimentos que não estão relacionados entre si por um vínculo causal e cujos conteúdos, a respeito dos significados, são iguais ou similares”.

Jung, em seu livro Sincronicidade, cita dois exemplos interessantes:

“Uma jovem senhora que estava tratando, em um momento crítico do seu processo terapêutico, teve um sonho no qual lhe davam um escaravelho dourado. Enquanto me contava o sonho, me sentei de costas para a janela que estava fechada. Imediatamente ouvi um ruído atrás de mim, como uma rápida batida. Dei a volta e vi um inseto que golpeava contra o vidro pela parte externa. Abri a janela e peguei o animal no ar. Era o mais parecido com o escaravelho dourado que se encontra em nossa latitude: a Centonia aurata, que contra seu costume habitual, havia sentido, sem dúvida a necessidade de entrar na sala escura naquele preciso momento. Tenho que admitir que não me havia acontecido nada parecido nem antes nem depois  e que o sonho da paciente tinha permanecido como algo único em minha experiência.”

“Quero também citar outro caso que é típico de uma sucessão de acontecimentos. A esposa de um de meus pacientes, já cinqüentenário,  me contou uma vez que, na morte de sua mãe e de sua avó, se reuniu um bando de pássaros por fora das janelas da câmara mortuária. Já tinha ouvido de outras pessoas histórias similares. Quando o tratamento de seu marido estava chegando ao fim, por estar curado de sua neurose, apareceram outros sintomas, aparentemente inócuos, que contudo me pareceram típicos de uma enfermidade do coração. Encaminhei-o a um especialista que, depois de examiná-lo, me confirmou por escrito que não encontrou nenhum motivo de alarme. Ao voltar da consulta, com o diagnóstico do médico em seu bolso, meu paciente sofreu um colapso na rua. Quando o levaram moribundo para casa, sua mulher se encontrava angustiada porque, pouco depois de que seu marido fora ao médico, um bando de pássaros pousou em sua casa. Ela, logicamente, recordou-se do que havia acontecido na morte de seus próprios parentes e temia o pior.” Em ambos os casos não há conexão casual que explique as coincidências.

Para chegarmos na sincronicidade precisamos buscar o autoconhecimento, porque a busca do autoconhecimento gera insight’s – quer dizer literalmente uma compreensão súbita, ou vulgarmente, uma ficha que cai. Cai a ficha e compreendemos. Através da compreensão de nós mesmos, como estamos, o que estamos vivendo naquele momento de vida, é exatamente isto que faz a sincronicidade acontecer: simplesmente é a nossa própria compreensão de nós mesmos. E a sincronicidade é encontrarmos aquilo que estamos procurando, mas precisamos nos tornar disponíveis a isto. Existe um jeitinho de acontecer que faz com que aquilo que estamos procurando também comece a nos procurar. A isto se dá o nome de sincronicidade.

Quando começamos a reconhecer a sincronicidade, não apenas vamos vê-la mais clara e evidente, mas ela começa a aumentar, a ampliar; é uma energia cumulativa, da forma como vamos trabalhando-a interiormente. Se começamos a compreender aquela linguagem, o que aquilo quer dizer, flui muito mais fácil. Quando compreendemos as coisas a sincronicidade se faz!

A sincronicidade une nossos destinos e seus fios invisíveis, o que pode servir de mapa para a nossa intuição.

Podemos falar no inconsciente coletivo: toda a energia que se encontra circulando no universo. Ok. Mas porque algumas pessoas recebem o sinal e outras não? Porque só para algumas faz sentido?  Com certeza porque estas pessoas, de alguma forma, tem a ver com o acontecimento.

Um exemplo que é muito comum nos consultórios: de repente, todas as pessoas que vem em busca de ajuda trazem um tipo específico de dificuldade. São pessoas que não se conhecem, pela lógica não tem a ver umas com as outras, mas …. estão ali todas buscando ajuda para tratar a baixo-estima, com o terapeuta X, por exemplo. Até parece que saiu um ônibus lotado de pessoas com baixo-estima, cujo destino é o consultório do Terapeuta X. Assim como dei este exemplo, poderia ser qualquer outra coisa como não saber lidar com limites, ou dificuldade de lidar com questões masculinas, entre tantos outros.

Porque será que este fenômeno acontece? Só consigo entendê-lo quando olho pelo ângulo da energia: atraímos o que precisamos para nossa vida. Tanto o terapeuta como o cliente precisam passar por aquele tipo de experiência. É uma vivência única, que só pode ter o seu significado esclarecido para ambos, quando as energias se unem.

Mas também podemos olhar para a sincronicidade, como sendo a orientação Divina, o Dedo de Deus, indicando os caminhos a serem percorridos.


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